Lendo o que a Tati colocou acima, concordo com o Pablo: percebo mais semelhanças . E lembrando nossa querida Mariza:" a Umbanda contém todas as religiões(. . . )".
Acredito que existem muito mais semelhanças do que diferenças propriamente ditas. Há dois pontos me chamam atenção, pois são os únicos onde consigo determinar limiares que distanciam as duas "religiões", são elas:
1 - O animal de Poder;
2 - A indução ao transe/incorporação;
Confesso que tenho estudado esse tema, principalmente pela sua colocação Tati, mas ainda estou caminhando, gostei de tê-lo colocado aqui como tópico, pois podemos compartilhar nossas opiniões e o que temos encontrado.
"Há tempo venho estudando o Xamanismo, procurando estabelecer pontos de semelhanças e diferenças com a Umbanda. Uma das questões que me direcionou a esse estudo e sempre fez despertar minha curiosidade por outras culturas religiosas e espiritualidades diversas é o fato de que na Umbanda se manifestam espíritos de origens diversas, desde um caboclo brasileiro, um escravo, um aborígene, um hindu, um inca ou egípcio.
Essas entidades que alcançaram, e agora se manifestam na Umbanda, não foram umbandistas em sua última encarnação, logo nos ensinam que é possível evoluir e ascender por meio de qualquer tradição, desde que encontre um caminho ético e uma proposta virtuosa. Querer conhecê-los a esses mentores de Umbanda, é mergulhar em universos diferentes e muito ricos cultural e espiritualmente. Essas incursões nos permitem dar conta de que há algo de incomum que permeia as várias culturas do sagrado, independente da complexidade ou evolução tecnológica que certo povo tenha em relação a outro.
As experiências de transcendência, a mística, o transe e o êxtase espiritual são inerentes ao ser humano, são antropológicos e encontrados em todos os lugares no espaço e no tempo. E da mesma forma encontraremos na Umbanda esses mesmos fenômenos que a liga e aproxima de todas as outras tradições. Esse algo em comum já fez muita gente pensar na existência de uma religião primeira e original da qual todas as outras seriam desdobramentos, enquanto evolução e degradação da raiz primeva. Assim surgiram muitas teorias cientificistas defendidas por cristãos, ocultistas, esotéricos e até umbandistas, que adotaram a idéia de aumbandã, que é uma forma adaptada do conceito de teosofia, ambos com a racionalização de um mito, o mito de uma religião pura, original, que permeia e está presente em todas as outras.
As experiências comuns em todas religiões são mais humanas que “religiosas”, mais espirituais que rituais, mais instintivas que metodológicas, mais pertencentes à sensibilidade que à técnica, muito mais poesia do que prosa. São experiência que vem de nossas entranhas, são viscerais, “humano, demasiado humano”, “existem desde que o mundo é mundo, desde que o homem é homem”, podemos assim buscá-las nas sociedades mais primitivas, antigas e simples.
Essas experiências em sua forma mais bruta (não lapidada), nos mais isolados e remotos grupos sociais que se tem notícia, em toda sua simplicidade em lidar com o transcendente, é o que se convencionou chamar de Xamanismo. No entanto, as mesmas “experiências xamânicas”, boa parte delas, se repetem em culturas mais complexas, consideradas mais evoluídas socialmente ou tecnologicamente falando.
O que é Xamanismo, afinal?
Mircea Eliada, um especialista no assunto, nos afirma que um xamã pode ser um feiticeiro, um mago ou sacerdote, mas nem todo feiticeiro, mago ou sacerdote é um xamã, inclusive definindo que em muitas tribos, o sacerdote-sacrificante coexiste, sem contar que todo chefe de família é também chefe do culto doméstico.
O xamã é o grande mestre do êxtase. Que tem por primeira definição desse fenômeno complexo, e possivelmente a menos arriscada: xamanismo = técnica do êxtase. E por êxtase aqui podemos entender “transe”, estado alterado de consciência.
O xamanismo é uma técnica arcaica de êxtase, ao mesmo tempo mística, magia e religião, no sentido amplo do termo.
Desde o início do século, os etnólogos se habituam a chamar como sinônimos os termos “xamã”, “medice-man”, feiticeiro e mago (em português poderíamos acrescentar a essa lista os termos “curandeiro” e “pajé” – nota da tradução da versão de 2002) para dotar certos indivíduos dotados de prestígio mágico-religioso encontrados em todas as sociedades “primitivas” (p15).
Vemos na obra de Eliade, na tradução para o português, a observação de que “poderíamos acrescentar a essa lista de xamanismo, os termos “curandeiro” e “pajé” ao lado de feiticeiro, mago e medice-man, o que nos leva à pajelança indígena e à pajelança cabocla e suas ramificações e encontros com a cultura afro e européia, a qual fez surgem um sem número de espiritualidades.
A pajelança indígena é um xamanismo realizado pelos diversos grupos indígenas, guardando suas semelhanças e diferenças, em sua pluralidade de práticas, sem no entanto nos ater a quaisquer peculiaridades, podemos dizer que no geral e no específico, seu conjunto de práticas é xamanismo indígena brasileiro.
A pajelança cabocla é aquela praticada por grupos populares que tiveram ou não contato com a pajelança indígena e que realizam práticas muito semelhantes, nas quais algus casos se verifica o praticante justificando a sua ação por meio da explicação de que incorpora o espírito de um pajé (indígena) e que é ele quem realiza a pajelança, na qual o médium em questão está em transe de incorporação.
Agora, trazendo essa reflexão para a Umbanda, temos por parte dos caboclos que incorporam nos adeptos (médiuns) trabalhos mediúnicos que podem perfeitamente se qualificar como pajelança, em muitos casos a justificativa de que se manifesta um caboclo que em vida (em uma das tantas encarnações) foi um pajé e que agora volta para continuar seu trabalho junto ao médium de Umbanda como uma missão assumida. Com relação a essa explicação podemos dizer que aqui quem realiza o xamanismo é o espírito, no entanto, a um observador externo, fora dos conceitos teológicos e doutrinários, o que se vê é aquele homem ou mulher exercendo uma prática xamânica, na qual suas explicações sobre mediunidade e incorporação de espíritos são simples observações do que acontece com ele, o médium, enquanto se realiza o processo que tem em si todas as características xamânicas. Está incorporado de um espírito indígena, pajé e xamã, e nesse momento está realizando xamanismo, pois o médium em sua constituição física está ali presente, seja consciente ou não desse fato. Se faz uma cura, essa se realizou por meio dele, a se fizer alguma bobagem, a culpa é dele também.
Ao incorporar um caboclo que trabalhe com práticas xamâncias, posso não me tornar um caboclo, posso não me sentir um xamã, mas de fato estou sendo o veículo dessa prática que está acontecendo por meu intermédio, estou praticando xamanismo em parceria com uma força, inteligência, uma outra consciência que toma a frente de meu mental e que identifico como caboclo, uma entidade (espírito) manifestante da qual me considero apenas um instrumento, mas que de fato está em mim, realizando a prática xamânica.
Talvez por esse e outros aspectos, o professor de teologia Edmundo Pellizari afirma que “a Umbanda é uma poderosa pajelança urbana”, o que podemos, por associação, expressar como “a Umbanda é um poderoso xamanismo urbano”; não apenas um xamanismo, mas xamanismo, mas também xamanismo em algumas de suas expressões."
Fontes consultados: ELIADE, Micea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São Paulo. Ed. Martins Fontes, 2002. – CUMINO, Alexandre. História da Umbanda. São Paulo, Editora Madras, 2010.
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Tati Paiva
29 de jul. de 2017
O Xamanismo e a Umbanda
Quem é o Xamã?
A palavra Xamã tem origem na língua Tungo falada na Sibéria.
O Xamanismo, ou Sagrado Selvagem, é uma forma antiga de expressão religiosa.
O Xamã é um místico que entra em contato com o Sagrado pelo transe.
O transe Xamanico possibilita, ao Xamã, o desdobramento de seu corpo espiritual, ou seja, ele abandona o corpo físico para buscar orientações no plano astral.
Ao retornar do desdobramento, o Xamã traz consigo o conhecimento que pode ser, por exemplo, a orientação de como curar, ou proceder, diante de uma doença ou problemas em sua comunidade.
Tal procedimento é comum entre Xamãs do mundo inteiro, inclusive entre nossos conhecidos Pajés brasileiros.
Podemos observar prática semelhante nos trabalhos de Apometria realizados em terreiros de Umbanda ou em grupos não vinculados a qualquer religião.
Outra prática comum entre Xamãs é a incorporação e o mergulho em seu inconsciente que permite o contato consigo mesmo.
No Xamanismo acredita-se que todos temos, dentro de nós, um animal de poder, seria como fosse o símbolo de nossos mais profundos instintos. A prática Xamanica nos conduz à descoberta desse animal.
Há ainda, outra forma de entender o animal de poder, seria ele nosso guardião, um animal que nos acompanha do plano astral e zela por nós.
O Xamã pode ainda, desdobrar-se e plasmar, no plano astral, seu animal de poder.
Há quem diga, ou pense, que Xamanismo nada tem a ver com Umbanda, mas, e quanto aos nomes: Caboclo Cobra Coral, Águia Branca, Pantera Negra, Exu Morcego, Exu Cobra Negra, além de outros?
Quando o Caboclo traz o nome de um animal significa que ele conhece os mistérios daquele animal e tem a força que dele emana.
Alguns exemplos da relação Orixá/Animal de poder são:
Águia – Oxalá
Cobras e Serpentes – Oxumaré
Panteras e felinos em geral – Oxossi
Cavalos – Ogum
Cão – Omulú
Na Umbanda, a presença dos animais de poder junto às entidades espirituais é muito sutil, por essa razão muitas vezes passa despercebida.
Médiuns videntes confirmam tal presença e relatam já terem visto, por exemplo, Exus caminhando junto a cães negros, lobos, panteras, Caboclos que trazem junto de si cobras/serpentes. São animais de poder das entidades que, ou vem para trabalhar ou para guardar a entidade ou até mesmo a casa.
Muitos Caboclos de Umbanda foram Xamãs. Eles costumam se apresentar como “Caboclos Velhos” ou Pajés.
Isso não quer dizer que o médium Umbandista, no momento da incorporação, esteja praticando Xamanismo e sim trazendo, para dentro do ritual de Umbanda, a sabedoria/conhecimento de um espírito que, quando encarnado, foi um Xamã ou Pajé.
Entre a Umbanda e o Xamanismo a semelhança principal é a mediunidade.
O Xamã utiliza ervas de poder que facilitam o transe mediúnico e esta é a principal diferença entre o médium Xamã e o Umbandista, pois, na Umbanda não se induz o transe com ervas ou bebidas. O transe acontece, na Umbanda, espontaneamente e é o ritual que determina tudo o que deve acontecer, ou seja, o transe na Umbanda é induzido pelo som, pela ordem de chamada das entidades que se manifestarão e assim por diante.
Assim como no Xamanismo, a religião do Daime também utiliza ervas de poder a fim de induzir o transe mediúnico, fato que também o diferencia da Umbanda.
Nem toda erva de poder é usada a fim de induzir o transe mediúnico, existem outras, como o café, por exemplo, que são consideradas ervas de poder por transmitirem energia a quem as consome.
No Caribe existe uma religião chamada Rastafári, popularizada por Bob Marley, que usa a maconha como erva de poder a fim de induzir ao transe mediúnico. Essa religião é bastante rígida e se apóia no Cristianismo primitivo.
Fora do ritual religioso, algumas ervas de poder são consideradas alucinógenas e usadas de forma profana causam muitos males aos que as consomem.
Dentro do ritual religioso a erva de poder é chamada “enteógeno”, ou seja, a erva que possibilita o encontro com o Sagrado.
No Peru a erva de poder mais conhecida e consumida é a folha da coca que confere energia a quem a consome e precisa caminhar em regiões muito altas, como montanhas e picos, por exemplo.
Na Umbanda, a erva de poder mais utilizada é o tabaco. Soprado pelas entidades tem o valor e o sentido de uma reza que pode promover a cura ou a limpeza da aura do consulente que recebe o sopro da erva.
Podemos concluir, diante do acima exposto, que a Umbanda herdou do Xamanismo a utilização das ervas de poder adequando-as ao seu ritual particular.
(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)
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Tati Paiva
29 de jul. de 2017
Tenho tentado entender a diferença entre as duas coisas, então vou colar o que li por aí.
“Enquanto a Umbanda é a farmácia o Xamanismo é a medicina”.
Essa frase não me desceu bem quando a ouvi pela primeira vez. Pareceu-me mais uma forma de preconceito com relação a Umbanda, pois vamos a farmácia quando precisamos comprar um remédio receitado pelo médico. A Umbanda não é um balcão comercial onde se pode comprar remédios, mesmo que alguns a queiram torná-la nisto, pois ela própria é capaz de receitar os remédios apropriados para certos males da alma e do corpo humano sem cobrar mais que a consciência necessária para tal, afinal, boa parte das pesquisas de laboratório de novos fármacos surgem da sabedoria ancestral. É verdade que quando a coisa aperta o ser humano procura recorrer àquilo que está mais a mão, da mesma maneira que quando uma dor física surge recorre-se a emergência hospitalar. Mas a Umbanda não é uma medicina espiritual de emergência, apesar de no imediatismo para resolvermos os nossos problemas, supostamente espirituais, que nós mesmos geramos, na maioria das vezes, recorrermos a um templo umbandista. Sendo assim ao escrever sobre Umbanda e Xamanismo quero dizer que Umbanda é Xamanismo. E se Xamanismo é Medicina, Umbanda também o é. A meu ver Umbanda é um dos Xamanismos que existem.
Mas há muita incompreensão nessa área.
Xamanismo é um conceito muito vasto e plural, pode-se falar em Xamanismos, mas todos os estudiosos reconhecem que essa pluralidade possui elementos comuns, tornando-se uma unidade na diversidade. Assim não há Xamanismo sem o culto à Terra e suas forças espirituais e sagradas. Um xamã é alguém que é capaz de dizer, sentir e perceber a Terra como sua e a si mesmo como pertencente à Terra, é alguém plenamente consciente de sua ligação com a Terra e suas forças espirituais. Ele diz: - Tudo isto é meu, toda a Terra é minha. E a própria Terra lhe responde: - E tu és meu. Isso confere uma consciência da responsabilidade para com a Terra e suas forças espirituais que é a marca do xamã.
E sendo o Xamanismo um conhecimento vasto e plural, a Umbanda também o é, assim existem diferentes Umbandas. Isso é sabido e notório. Mas entre todas as diferentes Umbandas existem elementos comuns. São eles, em nosso modo de ver, os seguintes:
1 – O culto as forças espirituais da Natureza: Os Orixás
2 – O cultivo do poder espiritual do ser humano
As diferentes formas de culto aos Orixás são:
1 - Através de trabalhos mágicos que usam o magnetismo humano, animal, vegetal, mineral e do próprio ambiente natural, dentro de uma geometria, em conformidade com os pontos cardeais da Terra e outros pontos de poder da Terra.
2 – Através das chamadas de poder ou pontos cantados onde são usados instrumentos musicais como o tambor ou atabaque.
As diferentes formas de cultivo do poder espiritual do ser humano são:
1 – A mediunidade, da qual a incorporação é apenas um tipo, mas é o tipo preponderante na Umbanda praticada hoje em dia e através da qual são realizadas as consultas, isto a nosso ver contribui para aquele quadro de atendimento que molda a Umbanda dentro de uma visão de farmácia, pois na maioria das vezes as pessoas vão em busca de resolver problemas imediatos e materiais de ordem emocional ou profissional, ignorando a busca pela sabedoria dos Orixás.
2 – A sintonização: a capacidade de concentrar-se e vibrar dentro de uma freqüência de energia para se alcançar certos estados alterados de consciência que nos conduzam a um estado de iluminação plena, nossa perfeita integração com nós mesmos e com a Natureza.
Não há na prática diferença entre a mediunidade e a sintonização, mas estamos usando os dois conceitos para criar uma diferença intencional que é a seguinte:
Em nosso modo de entender, na Umbanda, o progresso espiritual do ser humano não consiste em receber entidades porque nesse caso são elas que estão vindo até nós. O verdadeiro progresso espiritual consiste numa ampliação da consciência onde somos capazes de ir até as realidades onde as diversas entidades vivem e estar mais conscientes de nossas próprias realidades interiores (padrões de comportamento). Assim, a mediunidade que é entendida, normalmente, como processo de incorporação é diferente da sintonização que entendemos como um processo de ampliação da consciência, que envolve a conexão com o nosso deus interior.
Para que a sintonização ocorra o processo de desenvolvimento espiritual tem que estar assentado em nossa capacidade de administrar a nossa própria energia. Isso se dá em três passos estratégicos simples:
1 – Acumular
2 – Recanalizar
3 – Ampliar
Assim, a Umbanda pode ser definida como uma medicina xamânica que usa a força dos Orixás para o processo de ampliação da consciência humana e não um atendimento de balcão espiritual para tão somente resolver questões imediatas e materiais. Está na hora do ser humano acordar de vez para urgência de assumir a responsabilidade sobre sua própria vida e não querer que outros a resolvam para si. Antes ele deve buscar estar consciente do que nele promove os problemas nos quais ele próprio se envolve.
Os Orixás são os Deuses da Natureza, forças impessoais e conscientes (que foram antropomorfizadas por determinado nível de compreensão humana), que no Egito Antigo eram chamados de Néteres e que possuem diferentes nomes conforme a tradição mística de cada povo.
É bom definirmos o que entendemos por Orixá. Orixá é uma força cósmica que atua através de uma determinada potência da Natureza. Assim, por exemplo, Iemanjá é uma força cósmica que atua através do Mar.
Há sete Orixás essenciais dos quais os outros são desdobramentos. Como as sete notas musicais são capazes de comporem infinitas melodias, os 7 Orixás são capazes de criar infinitas formas naturais, gerando um tipo de informação ou conhecimento que pode ser acessado através da própria Natureza e que está codificado no próprio ser humano.
Cada elemento da Natureza é influenciado por um Orixá. Assim cada Orixá possui uma ou mais plantas que lhe são pertencentes porque energeticamente compatíveis. O mesmo vale para as pedras, os metais e os animais, incluindo o ser humano, que possui como atributo peculiar a capacidade de sintonizar em diferentes freqüências vibratórias mesmo tendo uma que lhe é própria ou que prepondera em seu campo de energia.
O que habilita o ser humano a vibrar em diferentes freqüências vibratórias é um elemento de seu corpo de energia que xamãs, tal como Carlos Castaneda, chamam de o ponto de aglutinação. A grosso modo o ponto de aglutinação é uma espécie de “dial” que nos permite sintonizar em diferentes faixas vibratórias porque atravessado por infinitos campos de energia vibratória do nosso multiverso.
Essa capacidade de sintonização do ser humano lhe permite um nível de realização pessoal que é profundamente mágico, pois o habilita a transformar-se num ser capaz de mudar sua estrutura energética, fazendo-o assim um xamã, após árduo treino e disciplina de uma vida inteira.
Essa capacidade mágica do ser humano de vibrar em diferentes freqüências de energia o vincula a uma força cósmica de uma maneira muito peculiar, a um Orixá de forma muito especial, que é um Orixá síntese, por que congrega em si os outros Orixás: Oxalá ou Orixalá, que significa o Orixá dos Orixás. Assim o ser humano é capaz de seguir a trilha do orixalato, pois é capaz de transitar conscientemente entre diferentes faixas vibratórias, mesmo tendo em si uma faixa onde vibra mais facilmente e que prepondera em seu campo de energia.
Dentro da Umbanda existem antigos xamãs de origem índia e africana que compõem a sua egrégora e guardam consigo os segredos ancestrais. Eis uma outra razão para se compreender que Umbanda é Xamanismo, pois sua egrégora espiritual está formada por xamãs de diferentes procedências unificados através Dela, Umbanda.
Um desses segredos ancestrais é o culto da Jurema, Yurema, árvore sagrada em diferentes culturas, que se faz referência em pontos cantados de Umbanda e que está sendo resgatado.
A própria Bíblia lhe faz referência. Na própria Bíblia a árvore do conhecimento ocupa um papel central porque proibida ao homem. Porque haveria de ser o acesso ao conhecimento algo proibido? A quem interessa manter o homem na ignorância? Há um conhecimento que foi perseguido, proibido, reprimido e que precisa ser revelado para que o homem possa reconquistar seu lugar no Jardim do Éden.
Assim, uma das funções da Umbanda é o resgate desses antigos conhecimentos ancestrais que foram destruídos devido ao processo de colonização que o Brasil sofreu por parte de Portugal, patrocinado ideologicamente pela Igreja Católica.
Esse processo de colonização deixou marcas severas na alma do povo brasileiro e uma dessas cicatrizes ainda não devidamente fechada é o preconceito com relação à própria Umbanda. E nem nela, na própria Umbanda se vista como farmácia, poderíamos encontrar um remédio que possa sanar o preconceito, já que a ignorância é um vírus que assume diferentes formas, mutável, e de antídoto ainda a ser encontrado. Por outro lado, se estamos executando o resgate desse conhecimento ancestral é porque fomos criando a necessária resistência contra a ignorância e a dominação ideológica em suas diferentes manifestações viróticas.
Lendo o que a Tati colocou acima, concordo com o Pablo: percebo mais semelhanças . E lembrando nossa querida Mariza:" a Umbanda contém todas as religiões(. . . )".
#nerdsdaumbanda
Acredito que existem muito mais semelhanças do que diferenças propriamente ditas. Há dois pontos me chamam atenção, pois são os únicos onde consigo determinar limiares que distanciam as duas "religiões", são elas:
1 - O animal de Poder;
2 - A indução ao transe/incorporação;
Confesso que tenho estudado esse tema, principalmente pela sua colocação Tati, mas ainda estou caminhando, gostei de tê-lo colocado aqui como tópico, pois podemos compartilhar nossas opiniões e o que temos encontrado.
Beijoooooca! <3
#nerdsdaumbanda haha
"Há tempo venho estudando o Xamanismo, procurando estabelecer pontos de semelhanças e diferenças com a Umbanda. Uma das questões que me direcionou a esse estudo e sempre fez despertar minha curiosidade por outras culturas religiosas e espiritualidades diversas é o fato de que na Umbanda se manifestam espíritos de origens diversas, desde um caboclo brasileiro, um escravo, um aborígene, um hindu, um inca ou egípcio.
Essas entidades que alcançaram, e agora se manifestam na Umbanda, não foram umbandistas em sua última encarnação, logo nos ensinam que é possível evoluir e ascender por meio de qualquer tradição, desde que encontre um caminho ético e uma proposta virtuosa. Querer conhecê-los a esses mentores de Umbanda, é mergulhar em universos diferentes e muito ricos cultural e espiritualmente. Essas incursões nos permitem dar conta de que há algo de incomum que permeia as várias culturas do sagrado, independente da complexidade ou evolução tecnológica que certo povo tenha em relação a outro.
As experiências de transcendência, a mística, o transe e o êxtase espiritual são inerentes ao ser humano, são antropológicos e encontrados em todos os lugares no espaço e no tempo. E da mesma forma encontraremos na Umbanda esses mesmos fenômenos que a liga e aproxima de todas as outras tradições. Esse algo em comum já fez muita gente pensar na existência de uma religião primeira e original da qual todas as outras seriam desdobramentos, enquanto evolução e degradação da raiz primeva. Assim surgiram muitas teorias cientificistas defendidas por cristãos, ocultistas, esotéricos e até umbandistas, que adotaram a idéia de aumbandã, que é uma forma adaptada do conceito de teosofia, ambos com a racionalização de um mito, o mito de uma religião pura, original, que permeia e está presente em todas as outras.
As experiências comuns em todas religiões são mais humanas que “religiosas”, mais espirituais que rituais, mais instintivas que metodológicas, mais pertencentes à sensibilidade que à técnica, muito mais poesia do que prosa. São experiência que vem de nossas entranhas, são viscerais, “humano, demasiado humano”, “existem desde que o mundo é mundo, desde que o homem é homem”, podemos assim buscá-las nas sociedades mais primitivas, antigas e simples.
Essas experiências em sua forma mais bruta (não lapidada), nos mais isolados e remotos grupos sociais que se tem notícia, em toda sua simplicidade em lidar com o transcendente, é o que se convencionou chamar de Xamanismo. No entanto, as mesmas “experiências xamânicas”, boa parte delas, se repetem em culturas mais complexas, consideradas mais evoluídas socialmente ou tecnologicamente falando.
O que é Xamanismo, afinal?
Mircea Eliada, um especialista no assunto, nos afirma que um xamã pode ser um feiticeiro, um mago ou sacerdote, mas nem todo feiticeiro, mago ou sacerdote é um xamã, inclusive definindo que em muitas tribos, o sacerdote-sacrificante coexiste, sem contar que todo chefe de família é também chefe do culto doméstico.
O xamã é o grande mestre do êxtase. Que tem por primeira definição desse fenômeno complexo, e possivelmente a menos arriscada: xamanismo = técnica do êxtase. E por êxtase aqui podemos entender “transe”, estado alterado de consciência.
O xamanismo é uma técnica arcaica de êxtase, ao mesmo tempo mística, magia e religião, no sentido amplo do termo.
Desde o início do século, os etnólogos se habituam a chamar como sinônimos os termos “xamã”, “medice-man”, feiticeiro e mago (em português poderíamos acrescentar a essa lista os termos “curandeiro” e “pajé” – nota da tradução da versão de 2002) para dotar certos indivíduos dotados de prestígio mágico-religioso encontrados em todas as sociedades “primitivas” (p15).
Vemos na obra de Eliade, na tradução para o português, a observação de que “poderíamos acrescentar a essa lista de xamanismo, os termos “curandeiro” e “pajé” ao lado de feiticeiro, mago e medice-man, o que nos leva à pajelança indígena e à pajelança cabocla e suas ramificações e encontros com a cultura afro e européia, a qual fez surgem um sem número de espiritualidades.
A pajelança indígena é um xamanismo realizado pelos diversos grupos indígenas, guardando suas semelhanças e diferenças, em sua pluralidade de práticas, sem no entanto nos ater a quaisquer peculiaridades, podemos dizer que no geral e no específico, seu conjunto de práticas é xamanismo indígena brasileiro.
A pajelança cabocla é aquela praticada por grupos populares que tiveram ou não contato com a pajelança indígena e que realizam práticas muito semelhantes, nas quais algus casos se verifica o praticante justificando a sua ação por meio da explicação de que incorpora o espírito de um pajé (indígena) e que é ele quem realiza a pajelança, na qual o médium em questão está em transe de incorporação.
Agora, trazendo essa reflexão para a Umbanda, temos por parte dos caboclos que incorporam nos adeptos (médiuns) trabalhos mediúnicos que podem perfeitamente se qualificar como pajelança, em muitos casos a justificativa de que se manifesta um caboclo que em vida (em uma das tantas encarnações) foi um pajé e que agora volta para continuar seu trabalho junto ao médium de Umbanda como uma missão assumida. Com relação a essa explicação podemos dizer que aqui quem realiza o xamanismo é o espírito, no entanto, a um observador externo, fora dos conceitos teológicos e doutrinários, o que se vê é aquele homem ou mulher exercendo uma prática xamânica, na qual suas explicações sobre mediunidade e incorporação de espíritos são simples observações do que acontece com ele, o médium, enquanto se realiza o processo que tem em si todas as características xamânicas. Está incorporado de um espírito indígena, pajé e xamã, e nesse momento está realizando xamanismo, pois o médium em sua constituição física está ali presente, seja consciente ou não desse fato. Se faz uma cura, essa se realizou por meio dele, a se fizer alguma bobagem, a culpa é dele também.
Ao incorporar um caboclo que trabalhe com práticas xamâncias, posso não me tornar um caboclo, posso não me sentir um xamã, mas de fato estou sendo o veículo dessa prática que está acontecendo por meu intermédio, estou praticando xamanismo em parceria com uma força, inteligência, uma outra consciência que toma a frente de meu mental e que identifico como caboclo, uma entidade (espírito) manifestante da qual me considero apenas um instrumento, mas que de fato está em mim, realizando a prática xamânica.
Talvez por esse e outros aspectos, o professor de teologia Edmundo Pellizari afirma que “a Umbanda é uma poderosa pajelança urbana”, o que podemos, por associação, expressar como “a Umbanda é um poderoso xamanismo urbano”; não apenas um xamanismo, mas xamanismo, mas também xamanismo em algumas de suas expressões."
Fontes consultados: ELIADE, Micea. O Xamanismo e as Técnicas Arcaicas do Êxtase. São Paulo. Ed. Martins Fontes, 2002. – CUMINO, Alexandre. História da Umbanda. São Paulo, Editora Madras, 2010.
O Xamanismo e a Umbanda
Quem é o Xamã?
A palavra Xamã tem origem na língua Tungo falada na Sibéria.
O Xamanismo, ou Sagrado Selvagem, é uma forma antiga de expressão religiosa.
O Xamã é um místico que entra em contato com o Sagrado pelo transe.
O transe Xamanico possibilita, ao Xamã, o desdobramento de seu corpo espiritual, ou seja, ele abandona o corpo físico para buscar orientações no plano astral.
Ao retornar do desdobramento, o Xamã traz consigo o conhecimento que pode ser, por exemplo, a orientação de como curar, ou proceder, diante de uma doença ou problemas em sua comunidade.
Tal procedimento é comum entre Xamãs do mundo inteiro, inclusive entre nossos conhecidos Pajés brasileiros.
Podemos observar prática semelhante nos trabalhos de Apometria realizados em terreiros de Umbanda ou em grupos não vinculados a qualquer religião.
Outra prática comum entre Xamãs é a incorporação e o mergulho em seu inconsciente que permite o contato consigo mesmo.
No Xamanismo acredita-se que todos temos, dentro de nós, um animal de poder, seria como fosse o símbolo de nossos mais profundos instintos. A prática Xamanica nos conduz à descoberta desse animal.
Há ainda, outra forma de entender o animal de poder, seria ele nosso guardião, um animal que nos acompanha do plano astral e zela por nós.
O Xamã pode ainda, desdobrar-se e plasmar, no plano astral, seu animal de poder.
Há quem diga, ou pense, que Xamanismo nada tem a ver com Umbanda, mas, e quanto aos nomes: Caboclo Cobra Coral, Águia Branca, Pantera Negra, Exu Morcego, Exu Cobra Negra, além de outros?
Quando o Caboclo traz o nome de um animal significa que ele conhece os mistérios daquele animal e tem a força que dele emana.
Alguns exemplos da relação Orixá/Animal de poder são:
Águia – Oxalá
Cobras e Serpentes – Oxumaré
Panteras e felinos em geral – Oxossi
Cavalos – Ogum
Cão – Omulú
Na Umbanda, a presença dos animais de poder junto às entidades espirituais é muito sutil, por essa razão muitas vezes passa despercebida.
Médiuns videntes confirmam tal presença e relatam já terem visto, por exemplo, Exus caminhando junto a cães negros, lobos, panteras, Caboclos que trazem junto de si cobras/serpentes. São animais de poder das entidades que, ou vem para trabalhar ou para guardar a entidade ou até mesmo a casa.
Muitos Caboclos de Umbanda foram Xamãs. Eles costumam se apresentar como “Caboclos Velhos” ou Pajés.
Isso não quer dizer que o médium Umbandista, no momento da incorporação, esteja praticando Xamanismo e sim trazendo, para dentro do ritual de Umbanda, a sabedoria/conhecimento de um espírito que, quando encarnado, foi um Xamã ou Pajé.
Entre a Umbanda e o Xamanismo a semelhança principal é a mediunidade.
O Xamã utiliza ervas de poder que facilitam o transe mediúnico e esta é a principal diferença entre o médium Xamã e o Umbandista, pois, na Umbanda não se induz o transe com ervas ou bebidas. O transe acontece, na Umbanda, espontaneamente e é o ritual que determina tudo o que deve acontecer, ou seja, o transe na Umbanda é induzido pelo som, pela ordem de chamada das entidades que se manifestarão e assim por diante.
Assim como no Xamanismo, a religião do Daime também utiliza ervas de poder a fim de induzir o transe mediúnico, fato que também o diferencia da Umbanda.
Nem toda erva de poder é usada a fim de induzir o transe mediúnico, existem outras, como o café, por exemplo, que são consideradas ervas de poder por transmitirem energia a quem as consome.
No Caribe existe uma religião chamada Rastafári, popularizada por Bob Marley, que usa a maconha como erva de poder a fim de induzir ao transe mediúnico. Essa religião é bastante rígida e se apóia no Cristianismo primitivo.
Fora do ritual religioso, algumas ervas de poder são consideradas alucinógenas e usadas de forma profana causam muitos males aos que as consomem.
Dentro do ritual religioso a erva de poder é chamada “enteógeno”, ou seja, a erva que possibilita o encontro com o Sagrado.
No Peru a erva de poder mais conhecida e consumida é a folha da coca que confere energia a quem a consome e precisa caminhar em regiões muito altas, como montanhas e picos, por exemplo.
Na Umbanda, a erva de poder mais utilizada é o tabaco. Soprado pelas entidades tem o valor e o sentido de uma reza que pode promover a cura ou a limpeza da aura do consulente que recebe o sopro da erva.
Podemos concluir, diante do acima exposto, que a Umbanda herdou do Xamanismo a utilização das ervas de poder adequando-as ao seu ritual particular.
(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)
Tenho tentado entender a diferença entre as duas coisas, então vou colar o que li por aí.
“Enquanto a Umbanda é a farmácia o Xamanismo é a medicina”.
Essa frase não me desceu bem quando a ouvi pela primeira vez. Pareceu-me mais uma forma de preconceito com relação a Umbanda, pois vamos a farmácia quando precisamos comprar um remédio receitado pelo médico. A Umbanda não é um balcão comercial onde se pode comprar remédios, mesmo que alguns a queiram torná-la nisto, pois ela própria é capaz de receitar os remédios apropriados para certos males da alma e do corpo humano sem cobrar mais que a consciência necessária para tal, afinal, boa parte das pesquisas de laboratório de novos fármacos surgem da sabedoria ancestral. É verdade que quando a coisa aperta o ser humano procura recorrer àquilo que está mais a mão, da mesma maneira que quando uma dor física surge recorre-se a emergência hospitalar. Mas a Umbanda não é uma medicina espiritual de emergência, apesar de no imediatismo para resolvermos os nossos problemas, supostamente espirituais, que nós mesmos geramos, na maioria das vezes, recorrermos a um templo umbandista. Sendo assim ao escrever sobre Umbanda e Xamanismo quero dizer que Umbanda é Xamanismo. E se Xamanismo é Medicina, Umbanda também o é. A meu ver Umbanda é um dos Xamanismos que existem.
Mas há muita incompreensão nessa área.
Xamanismo é um conceito muito vasto e plural, pode-se falar em Xamanismos, mas todos os estudiosos reconhecem que essa pluralidade possui elementos comuns, tornando-se uma unidade na diversidade. Assim não há Xamanismo sem o culto à Terra e suas forças espirituais e sagradas. Um xamã é alguém que é capaz de dizer, sentir e perceber a Terra como sua e a si mesmo como pertencente à Terra, é alguém plenamente consciente de sua ligação com a Terra e suas forças espirituais. Ele diz: - Tudo isto é meu, toda a Terra é minha. E a própria Terra lhe responde: - E tu és meu. Isso confere uma consciência da responsabilidade para com a Terra e suas forças espirituais que é a marca do xamã.
E sendo o Xamanismo um conhecimento vasto e plural, a Umbanda também o é, assim existem diferentes Umbandas. Isso é sabido e notório. Mas entre todas as diferentes Umbandas existem elementos comuns. São eles, em nosso modo de ver, os seguintes:
1 – O culto as forças espirituais da Natureza: Os Orixás
2 – O cultivo do poder espiritual do ser humano
As diferentes formas de culto aos Orixás são:
1 - Através de trabalhos mágicos que usam o magnetismo humano, animal, vegetal, mineral e do próprio ambiente natural, dentro de uma geometria, em conformidade com os pontos cardeais da Terra e outros pontos de poder da Terra.
2 – Através das chamadas de poder ou pontos cantados onde são usados instrumentos musicais como o tambor ou atabaque.
As diferentes formas de cultivo do poder espiritual do ser humano são:
1 – A mediunidade, da qual a incorporação é apenas um tipo, mas é o tipo preponderante na Umbanda praticada hoje em dia e através da qual são realizadas as consultas, isto a nosso ver contribui para aquele quadro de atendimento que molda a Umbanda dentro de uma visão de farmácia, pois na maioria das vezes as pessoas vão em busca de resolver problemas imediatos e materiais de ordem emocional ou profissional, ignorando a busca pela sabedoria dos Orixás.
2 – A sintonização: a capacidade de concentrar-se e vibrar dentro de uma freqüência de energia para se alcançar certos estados alterados de consciência que nos conduzam a um estado de iluminação plena, nossa perfeita integração com nós mesmos e com a Natureza.
Não há na prática diferença entre a mediunidade e a sintonização, mas estamos usando os dois conceitos para criar uma diferença intencional que é a seguinte:
Em nosso modo de entender, na Umbanda, o progresso espiritual do ser humano não consiste em receber entidades porque nesse caso são elas que estão vindo até nós. O verdadeiro progresso espiritual consiste numa ampliação da consciência onde somos capazes de ir até as realidades onde as diversas entidades vivem e estar mais conscientes de nossas próprias realidades interiores (padrões de comportamento). Assim, a mediunidade que é entendida, normalmente, como processo de incorporação é diferente da sintonização que entendemos como um processo de ampliação da consciência, que envolve a conexão com o nosso deus interior.
Para que a sintonização ocorra o processo de desenvolvimento espiritual tem que estar assentado em nossa capacidade de administrar a nossa própria energia. Isso se dá em três passos estratégicos simples:
1 – Acumular
2 – Recanalizar
3 – Ampliar
Assim, a Umbanda pode ser definida como uma medicina xamânica que usa a força dos Orixás para o processo de ampliação da consciência humana e não um atendimento de balcão espiritual para tão somente resolver questões imediatas e materiais. Está na hora do ser humano acordar de vez para urgência de assumir a responsabilidade sobre sua própria vida e não querer que outros a resolvam para si. Antes ele deve buscar estar consciente do que nele promove os problemas nos quais ele próprio se envolve.
Os Orixás são os Deuses da Natureza, forças impessoais e conscientes (que foram antropomorfizadas por determinado nível de compreensão humana), que no Egito Antigo eram chamados de Néteres e que possuem diferentes nomes conforme a tradição mística de cada povo.
É bom definirmos o que entendemos por Orixá. Orixá é uma força cósmica que atua através de uma determinada potência da Natureza. Assim, por exemplo, Iemanjá é uma força cósmica que atua através do Mar.
Há sete Orixás essenciais dos quais os outros são desdobramentos. Como as sete notas musicais são capazes de comporem infinitas melodias, os 7 Orixás são capazes de criar infinitas formas naturais, gerando um tipo de informação ou conhecimento que pode ser acessado através da própria Natureza e que está codificado no próprio ser humano.
Cada elemento da Natureza é influenciado por um Orixá. Assim cada Orixá possui uma ou mais plantas que lhe são pertencentes porque energeticamente compatíveis. O mesmo vale para as pedras, os metais e os animais, incluindo o ser humano, que possui como atributo peculiar a capacidade de sintonizar em diferentes freqüências vibratórias mesmo tendo uma que lhe é própria ou que prepondera em seu campo de energia.
O que habilita o ser humano a vibrar em diferentes freqüências vibratórias é um elemento de seu corpo de energia que xamãs, tal como Carlos Castaneda, chamam de o ponto de aglutinação. A grosso modo o ponto de aglutinação é uma espécie de “dial” que nos permite sintonizar em diferentes faixas vibratórias porque atravessado por infinitos campos de energia vibratória do nosso multiverso.
Essa capacidade de sintonização do ser humano lhe permite um nível de realização pessoal que é profundamente mágico, pois o habilita a transformar-se num ser capaz de mudar sua estrutura energética, fazendo-o assim um xamã, após árduo treino e disciplina de uma vida inteira.
Essa capacidade mágica do ser humano de vibrar em diferentes freqüências de energia o vincula a uma força cósmica de uma maneira muito peculiar, a um Orixá de forma muito especial, que é um Orixá síntese, por que congrega em si os outros Orixás: Oxalá ou Orixalá, que significa o Orixá dos Orixás. Assim o ser humano é capaz de seguir a trilha do orixalato, pois é capaz de transitar conscientemente entre diferentes faixas vibratórias, mesmo tendo em si uma faixa onde vibra mais facilmente e que prepondera em seu campo de energia.
Dentro da Umbanda existem antigos xamãs de origem índia e africana que compõem a sua egrégora e guardam consigo os segredos ancestrais. Eis uma outra razão para se compreender que Umbanda é Xamanismo, pois sua egrégora espiritual está formada por xamãs de diferentes procedências unificados através Dela, Umbanda.
Um desses segredos ancestrais é o culto da Jurema, Yurema, árvore sagrada em diferentes culturas, que se faz referência em pontos cantados de Umbanda e que está sendo resgatado.
A própria Bíblia lhe faz referência. Na própria Bíblia a árvore do conhecimento ocupa um papel central porque proibida ao homem. Porque haveria de ser o acesso ao conhecimento algo proibido? A quem interessa manter o homem na ignorância? Há um conhecimento que foi perseguido, proibido, reprimido e que precisa ser revelado para que o homem possa reconquistar seu lugar no Jardim do Éden.
Assim, uma das funções da Umbanda é o resgate desses antigos conhecimentos ancestrais que foram destruídos devido ao processo de colonização que o Brasil sofreu por parte de Portugal, patrocinado ideologicamente pela Igreja Católica.
Esse processo de colonização deixou marcas severas na alma do povo brasileiro e uma dessas cicatrizes ainda não devidamente fechada é o preconceito com relação à própria Umbanda. E nem nela, na própria Umbanda se vista como farmácia, poderíamos encontrar um remédio que possa sanar o preconceito, já que a ignorância é um vírus que assume diferentes formas, mutável, e de antídoto ainda a ser encontrado. Por outro lado, se estamos executando o resgate desse conhecimento ancestral é porque fomos criando a necessária resistência contra a ignorância e a dominação ideológica em suas diferentes manifestações viróticas.
Salve o Xamanismo, Salve a Umbanda!